ENTREVISTA COM ANDRÉ ILHA
A intenção do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), segundo o diretor de Biodiversidade e Áreas Protegidas, André Ilha, em entrevista à FOLHA DIRIGIDA, é chamar os aprovados no concurso para guarda-parques o mais rápido possível. O objetivo do órgão é que os convocados já estejam trabalhando nas unidades de conservação até o fim deste ano.
"A convocação será imediata e sairá logo depois da homologação do concurso, por causa do caráter de absoluta urgência. A nossa intenção é fecharmos este ano com os 220 aprovados já treinados e distribuídos nas unidades para as quais fizeram o concurso", explicou André Ilha. Para ele, além da urgência, a seleção possui uma grande importância, inclusive por ser destinada a um cargo novo. "O profissional responsável, por excelência, pela gestão direta das reservas biológicas, dos parques e das estações ecológicas é o guarda-parque."
André Ilha ainda ressalta que a presença de pessoal no campo, uniformizado e identificado é fundamental para a valorização das áreas protegidas. "É preciso que tenha alguém sempre pronto para ajudar, orientar e zelar pela integridade física dos visitantes e, naturalmente, pela integridade do patrimônio natural ali contido", afirmou. As inscrições do concurso para o cargo, que exige ensino médio e tem vencimento de R$1.500, seguem abertas até 15 de abril no www.fec.uff.br. Leia a entrevista:
FOLHA DIRIGIDA - Qual é a importância desse concurso de guarda-parque para o Inea?
André Ilha - O Inea é responsável pela gestão de uma série de unidades de conservação chamadas de Proteção Integral, como os parques propriamente ditos, reservas biológicas e estações ecológicas. Depois dessas unidades serem criadas por um ato formal, precisam ser implantadas. Isso significa que é preciso regularizar fundiariamente o perímetro da unidade, implantar as suas estruturas físicas, como sede, centro de visitantes, alojamentos e estruturas de uso público (trilhas, mirantes, deques etc), e também efetuar a gestão dessas áreas, ou seja, fazer com que elas atendam efetivamente o objetivo para o qual foram criadas. E o profissional responsável, por excelência, pela gestão direta dessas áreas é o guarda-parque. Por esse motivo, nós chamamos a atenção há anos para a importância da criação desta função e, agora, com muita alegria, finalmente foi publicado o edital para contratação, ainda que temporária, desse contingente.
Há quanto tempo o Inea tem o objetivo de colocar o cargo de guarda-parque dentro do quadro funcional do órgão?
Desde que eu assumi a presidência do antigo IEF (Instituto Estadual de Florestas), que depois veio a se fundir com a antiga Superintendência Estadual de Rios e Lagoas (Serla), para criação do Inea, que ocorreu em janeiro de 2009. Desde que o secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc, me convidou para retornar à presidência do IEF, que eu já havia ocupado em duas oportunidades, e concordei, eu pedi para ter dedicação máxima em dois projetos que eu considerava imprescindíveis para que a gestão dessas áreas (parques, reservas ecológicos etc) não fossem um faz de conta. Um deles era a criação do núcleo de regularização fundiária, ou seja, um conjunto de profissionais que se dediquem a identificar as áreas privadas existentes no interior dessas unidades e a fazer todos os procedimentos administrativos para a sua desapropriação. E o outro objetivo era a criação do cargo de guarda-parque, por causa de toda a importância que nós atribuímos a essa função.
Por ser um cargo novo, o que exatamente faz um guarda-parque? Quais são as atividades que ele desempenha?
Guarda-parques não são meros funcionários que vão ficar trabalhando a serviço das unidades de conservação. Eles são muito mais que isso. Esses profissionais serão responsáveis pela implantação de uma filosofia de cuidado com essas áreas; de ordenamento da visitação; de interação com moradores existentes em volta dessas áreas ou dentro delas, enquanto a regularização fundiária não tiver sido feita; de apoio à pesquisa científica e pela importante tarefa de prevenção e combate a incêndios florestais, que são a principal causa de destruição da Mata Atlântica fluminense, preservada por tais unidades. Os guarda-parques também serão responsáveis por ação de busca e salvamento de pessoas perdidas ou feridas, acidentadas no interior dos parques. E também, no caso de grandes catástrofes nas proximidades das unidades em que trabalham, atuarão como uma força auxiiar da Defesa Civil, no sentido de ajudar nas buscas e salvamentos, no apoio às vítimas. O guarda-parque precisa ter uma ligação muito profunda com a unidade na qual estiver atuando, ser conhecido pelos moradores da região pelo nome e conhecer esses moradores pelo nome. O Inea espera que haja uma aproximação muito grande desse profissional com os moradores e com os visitantes, que
tenham o objetivo de lazer ou prática de esportes, ou os inúmeros pesquisadores que desenvolvem estudos em todos os campos de conhecimento nos nossos parques e reservas.
Qual é a importância da consolidação desse cargo, principalmente diante de um cenário de preservação do meio ambiente e da criação de novos parques?
Nós queremos provar para o conjunto da sociedade que, para que a gente possa ter uma gestão efetiva de tais áreas, a figura do guarda-parque é absolutamente indispensável. O recente estudo do Banco Mundial provou aquilo que nós já sabíamos, que o fator individual mais importante para o sucesso da gestão de uma área protegida é a presença de pessoal no campo, uniformizado, identificado e sempre pronto para ajudar, orientar e zelar pela integridade física dos visitantes e, naturalmente, pela integridade do patrimônio natural ali contido. E esse profissional é o guarda-parque.
Qual é o perfil de funcionário de guarda-parque que o Inea procura?
As exigências formais do concurso são nível médio completo e idade máxima de 45 anos. Mas o Inea espera queesse concurso tenha o condão de atrair pessoas que amem a natureza e tenham uma ligação forte com os ambientes naturais, que se sintam bem trabalhando nessas áreas e contribuindo para a preservação e valorização perante os olhos da sociedade. Nós também fizemos um concurso setorizado, ou seja, o candidato fará concurso para determinada unidade de conservação e, com isso, nós pretendemos estimular a participação de moradores locais, o que tem uma vantagem adicional, já que teremos "filhos da terra" trabalhando junto com o Inea na proteção dessas áreas.
O concurso é para 220 vagas temporárias. Esse número é suficiente para suprir as necessidades, pelo menos, imediatas?
Nós fizemos uma estimativa de que, com as unidades de conservação de Proteção Integral que já temos e aquelas que devem ser criadas em um futuro próximo (estamos em vias de criar dois novos parques: Lagoa do Açu e Pedra Selada), o número ideal seria de 400 profissionais. Esse é o número que consta em um projeto de lei, que será enviado em breve à Casa Civil e depois à Assembleia Legislativa. Na verdade, é o fato de haver esse projeto de lei, criando 400 vagas definitivas, que permitiu que fizéssemos agora esse concurso para 220 vagas temporárias. Mas considerando que já temos 60 homens cedidos pelo Corpo de Bombeiros atuando como guarda-parques e 20 outros servidores do Inea que também atuam nessa função, chegamos a um contingente de 300, o que é bastante razoável e nos permite afirmar que a partir daí poderemos realizar, efetivamente, uma gestão adequada de todos os nossos parques e reservas estaduais.
Há previsão de abrir um concurso para guarda-parque efetivo?
Num futuro sim, mas acredito que não seja em um futuro próximo, por conta da tramitação do projeto de lei criando essas vagas no nosso Plano de Cargos e Salários. E como, neste concurso aberto, os contratos terão duração de três anos, podendo ser prorrogados por mais dois, nós não estamos preocupados em agilizar essa tramitação no momento. Por enquanto, a nossa atenção é receber e treinar esses temporários.
Então, na gestão atual do Sérgio Cabral, não terá concurso para efetivo?
Acho muito improvável.
Há previsão de chamar aprovados além das vagas ou isso dependeria de uma autorização do governador para ampliar a oferta?
Não há uma previsão e isso não está nos nossos planos. Haverá, no entanto, a possibilidade de reposição, caso alguém desista, mas preenchidas serão 220 vagas.
As convocações serão imediatas? Os 220 aprovados serão chamados de uma só vez?
Serão feitas duas convocações de 110 candidatos. E cada aprovado passará por um treinamento intensivo de dois meses, e só depois desse período começará a trabalhar efetivamente. A convocação será imediata e sairá logo depois da homologação do concurso, por causa do caráter de absoluta urgência. A nossa intenção é fecharmos esse ano com os 220 aprovados já treinados e distribuídos nas unidades para as quais fizeram o concurso.
Como será feito esse treinamento?
Esse treinamento tem sido discutido internamente e consideramos a sua existência fundamental. Uma parte será ministrada pelo Corpo de Bombeiros, que será o combate a incêndios, busca e salvamento, primeiros-socorros, e depois, terá uma parte voltada para as questões ambientais, e uma ênfase muito grande em Relações Públicas. O guarda-parque, sem dar prejuízo às suas atividades de fiscalização, tem o poder de polícia administrativa e será, sobretudo, um grande relações públicas de cada parque ou reserva ambiental. O treinamento será teórico e, principalmente, prático, sendo feito no campo e será realizado, simultaneamente, nas nossas instalações (na Estação Ecológica do Paraíso, em Guapimirim), e estamos conversando com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) de a outra metade dos convocados fazer o treinamento ao mesmo tempo, em uma unidade federal próxima, possivelmente na Serra dos Órgãos, mas isso ainda está sendo decidido e teremos a confirmação em breve. Se isso não acontecer, seremos forçados a fazer quatro turmas (convocando 55 de cada vez) e isso atrasaria a entrada dos 220 funcionários, o que nãoqueremos que aconteça. Inicialmente, faríamos o treinamento somente nas nossas instalações, mas com o atraso e devido à urgência da contratação dos guarda-parques, resolvemos realizá-lo em outros locais também. Agora, as duas turmas farão o treinamento paralelamente, ao mesmo tempo. Portanto, salvo algum imprevisto, o tempo total de treinamento do contingente (duas turmas de dois meses) será de quatro meses.
Qual mensagem o senhor pode dar para quem pretende participar do concurso?
Como eu sou um usuário antigo de parques municipais, uma vez que eu pratico montanhismo há quase 40 anos, eu entendo bem a importância dessa profissão e a beleza nela contida. É uma função que permite uma interação direta com a natureza e com pessoas que buscam a natureza, seja por razões esportivas, de lazer, científicas ou religiosas, e, portanto, é uma profissão que é bonita e fundamental, no sentido que contribuirá, efetivamente, a longo prazo, com a preservação da riquíssima biodiversidade fluminense, em grande parte contida nos nossos parques, reservas e estações ecológicas. Eu, se fosse mais novo e tivesse apenas o ensino médio completo, com certeza, participaria desse concurso, porque eu teria a satisfação de contribuir com essa preservação do ambiente, que é tão importante para todos nós.
Fonte: http://www.inea.rj.gov.br/entrevista_andre_ilha.asp
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Postagens populares
-
A Associação dos Guarda-parques do RJ manifesta-se sobre a atual situação dos Guarda-parques e a preocupação com o futuro da categoria d...
-
Na última sexta, 30/05, foi publicado no Diário Oficial do Estado, o edital para o concurso da Secretaria da Administração e dos Recurso...
-
Mais de 200 mil hectares de Mata Atlântica preservados nas Unidades de Conservação do Estado do Rio de Janeiro estão ameaçados com o risco i...
-
Uma boa notícia para quem tem vontade de ser Guarda-parque, fiquem atentos e já podem ir estudando, pois muito em breve o Governo do Estado...
-
Entre os dias 02 e 16 de janeiro de 2014, o Guarda-parque Luciano Menezes (RS), Presidente da AGP-RS, que atualmente está lotado no P...
Nenhum comentário:
Postar um comentário