O Guarda-Parque

Conhecendo melhor



05 de Fevereiro de 2013.
Osvaldo Alfonso Barassi Gajardo


Quem são os Guarda-parques
Os Guarda-parques são a principal ferramenta de gestão para as unidades de conservação, são os profissionais preparados e capacitados para o trabalho dentro das áreas, executando atividades de conservação e preservação dos recursos naturais e culturais de um determinado local. Eles são o elo fundamental entre as políticas públicas e as comunidades locais das unidades de conservação onde eles desempenham seu trabalho.

A Federação Internacional de Guarda-parques (FIG) os define como:
“Como as pessoas envolvidas nas práticas de preservação e proteção de todos os aspectos das áreas silvestres, históricas ou sítios culturais. Os Guarda-parques promovem oportunidades recreativas e de interpretação ambiental de sítios, enquanto promovem relações entre as comunidades locais, as áreas protegidas e a administração da área”.

Historia dos Guarda-parques
É possível dizer que, com o estabelecimento das primeiras áreas de conservação, começa a emergir o insubstituível labor do Guarda-parque. Provavelmente, os primeiros assentamentos das culturas indígenas, que fizeram uma utilização muito prudente e racional dos recursos naturais, precisavam manter as pessoas conectadas para cuidar destes espaços selvagens.
Há mais de 2.000 anos, algumas áreas foram protegidas por decreto real na Índia com o propósito de proteger os recursos naturais. Na Europa, entretanto, se preservam áreas para caça por mais de mil anos. A ideia de proteger sítios de interesse "especial" é universal na história, entre outras culturas, tradições comunitárias do Pacífico (os tapúes) e em regiões da África (túmulas sagradas). As origens das áreas protegidas datam do século XIX. Por volta de 1.810, alguns escritores e poetas saxões mencionam a conveniência de estabelecer áreas em que o homem e natureza convivam em algum tipo de equilíbrio. Gradualmente, a sociedade foi reconhecendo a necessidade de restringir o uso humano em áreas geográficas definidas, com exceção de atividades de lazer ou educacionais. O primeiro Parque Nacional com designação legal foi criado em 1872, o Parque Nacional de Yellowstone nos Estados Unidos para o benefício e prazer das pessoas. De acordo com o exposto, podemos deduzir que o trabalho dos Guarda-parques é muito antigo, num primeiro momento como cuidadores ou responsáveis do patrimônio natural, hoje como verdadeiros articuladores de muitas iniciativas, desde o desenvolvimento local até a educação ambiental.

Locais que desenvolvem os trabalhos
Os Guarda-parques desempenham suas atividades dentro e em alguns casos fora das Unidades de Conservação criadas tanto pelos Governos Federais, Estaduais ou Municipais.
No caso Brasileiro, no ano 2000 foi instituído pela Lei nº 9.985 o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) com a finalidade de criar diferentes categorias de manejo segmentadas em dois grandes grupos. O primeiro denominado como Unidades de Proteção Integral e o segundo denominado como Unidades de Uso Sustentável. A continuação se enuncia o tipo de unidades de conservação definidas na lei.

Unidades de Proteção Integral
Unidades de Uso Sustentável
Estação Ecológica
Area de Proteção Ambiental
Reserva Biológica
Area de relevante interesse ecológico
Parque Nacional
Floresta Nacional
Monumento Natural
Reserva Extrativista
Refúgio de Vida Silvestre
Reserva de Fauna

Reserva de Desenvolvimento Sustentável

Reserva Particular de Patrimônio Natural

Segundo o SNUC as Unidades de Conservação são:
“Espaços territoriais e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção”. (Lei SNUC, 2000, pag. 1).

Funções dos Guarda-parques
A existência de profissionais para trabalhar dentro das unidades de conservação é uma realidade na maioria dos países, existindo algumas diferenças relacionadas com as atividades diárias do Profissional, assim, por exemplo, existem Guarda-parques que executam somente atividades de controle ou fiscalização e outros que executam todas as atividades necessárias no gerenciamento das unidades. Os Guarda-parques realizam na maioria dos países as seguintes atividades:

  • Educação e Interpretação Ambiental:

Uma das principais tarefas realizadas é a aplicação de técnicas de educação ambiental ao ar livre ou em escolas que ficam perto de áreas protegidas, tentando gerar mudanças comportamentais nos participantes com a finalidade de alcançar uma maior valorização do nosso patrimônio natural e cultural. A interpretação ambiental, atividade feita em contato permanente com a natureza permite que os participantes conheçam alguma espécie animal, vegetal ou fenômeno natural em particular, permitindo uma maior compreensão e valorização dos recursos naturais ou culturais. Tudo isto se destina para que a sociedade proteja com maior esforço e de melhor maneira os recursos que as Unidades de Conservação intencionam proteger e salvaguardar, tanto dentro como fora de seus limites.
  • Planejamento, Controle e implementação dos programas de manejo das Unidades de Conservação:

As diferentes categorias de manejo, sejam parques, reservas ou outra categoria, possuem planos de manejo ou outro instrumento de gerenciamento. Os planos de manejo são documentos técnicos que regem e regulam as ações dentro da área protegida. Estes documentos definem os diferentes programas de gestão, incluindo: Operações, Uso Público, Gestão dos recursos naturais e/ou culturais, Articulação e Desenvolvimento local, entre outros. Programas que devem ser planejados, controlados e executados pelos guarda-parques.
  • Controle de visitantes:

Uma atividade permanente e de grande importância em unidades com visitação pública é o controle de visitantes, permitindo a compilação dos dados de cada um presente na área, conhecendo os itinerários, relatando as condições de acesso e precauções a ter em consideração durante a visitação. Um Guarda-parque bem informado do local onde se dirigem os seus visitantes pode planejar, coordenar e executar efetivamente um resgate em caso de acidente ou perda, atingindo bons resultados na sua gestão.
  • Informação turística e do meio ambiente natural e cultural:

Os Guarda-parques sempre mantem os visitantes informados sobre quais são os destinos mais importantes e ser conhecidos. Também fornecem informações profundas e completas sobre os aspectos naturais e culturais existentes nas diferentes áreas protegidas em que realizam seu trabalho.  
  • Pesquisa de Campo:

Os Guarda-parques, em alguns casos, ao viver e trabalhar permanentemente dentro ou no entorno da Unidade de Conservação, conhecem detalhes e lugares que lhe permitem ser um excelente investigador de campo, desenvolvendo projetos de pesquisa ou apoio nestas em diferentes matérias e aspectos relacionados com os ecossistemas florestais, faunísticos ou culturais associados à área.
  • Realização de diversos projetos de desenvolvimento sustentáveis dirigidos às comunidades locais e vizinhas as Unidades:

O Guarda-parque está em uma posição privilegiada, sendo uma ponte entre as necessidades de diferentes comunidades que vivem dentro ou fora das áreas e oportunidades de desenvolvimento e suporte oferecidos por os diferentes governos. Sendo um elo entre os dois níveis e um planejador efetivo no desenvolvimento de vários projetos de desenvolvimento sustentável.
  •  Combate a incêndios florestais:

Muitos Guarda-parques são treinados no combate de incêndios florestais e devem combater em alguns casos o início do incêndio, evitando assim a extinção de muitas espécies biológicas por causa do fogo.
  • Resgate, primeiros socorros e apoio às comunidades locais e turistas em caso de desastres naturais:

Quando acontece um acidente ou um evento catastrófico natural, os guarda-parques são os primeiros a vir para o resgate e tentar acalmar a população, além de cuidar dos feridos ou aplicar técnicas de primeiros socorros. Em caso de perda de visitantes ou de emergência devem organizar e executar a busca.
  • Construção e manutenção da infraestrutura das Unidades de Conservação (pontes, mirantes, trilhas, casas, centros de informação, etc.):

Grande parte da infraestrutura existente em alguns Parques Nacionais ou outras Unidades de Conservação no mundo tem sido construída e mantida por guarda-parques qualificados para a concepção do design e construção de infraestrutura.
  • Execução de projetos de conservação do patrimônio natural e/ou cultural:

Vários projetos relacionados à conservação do patrimônio natural e/ou cultural, tal como o enriquecimento ambiental através do reflorestamento de espécies nativas, entre outros, são planejados e implantados por guarda-parques.
  • Vigilância e fiscalização:

Os guarda-parques, por meio do patrulhamento contínuo e de fiscalizações realizadas, devem aplicar as leis ambientais, percorrendo as áreas a proteger e suas respectivas zonas de amortecimento com a finalidade de detectar possíveis atividades ilícitas que geram conflitos com os diferentes ecossistemas e recursos culturais existentes. Em alguns países os guarda-parques tem autorização de porte de arma de fogo para realizar esta tarefa.


Como ser um Guarda-parque
Em muitos países para ser um guarda-parque é preciso ter alguns cursos específicos para exercer a profissão. Na Argentina, por exemplo, algumas instituições acadêmicas oferecem a carreira técnica de guarda-parque. No Chile, por exemplo, contratam-se atualmente profissionais formados nas áreas de engenharia florestal, ambiental ou de cursos técnicos em turismo, entre outros, carreiras que estão diretamente ligadas ao gerenciamento das unidades de conservação. Algumas instituições de ensino também estão formando guarda-parques em nível técnico e profissional.
No caso do Brasil, não se tem conhecimento da existência de exigências acadêmicas para ser guarda-parque. Não obstante, algumas organizações governamentais e não governamentais realizam cursos de capacitação para guarda-parques e agentes ambientais indígenas.
Na Argentina a Agência de Cooperação Japonesa (JIICA) estabeleceu no ano 1979 um convênio de cooperação técnica com a Administração de Parques Nacionais, para a realização anual do “Curso Regional para Guarda-parques de América Latina” ditados no Centro de Formação e capacitação em áreas protegidas.

Guarda-parques no Contexto Mundial
No mundo todo, pode-se dizer que existem diferentes leis que reconhecem e criam a figura do Guarda-parque, definindo as atribuições, papel e atividades que desenvolvem em seu trabalho, dotando de uma estrutura legal para fazer o trabalho de proteção do patrimônio natural e cultural.
Os guarda-parques tem se organizado de diferentes formas para melhorar suas condições de trabalho e gerar redes internacionais, sejam estes mediante a criação de sindicatos ou de associações.
Para gerar contatos em nível internacional as associações têm sido fundamentais, principalmente ao cumprir com seus objetivos de intercambio de experiências para melhorar as capacidades e competências dos guarda-parques.
A Federação Internacional de Guarda-Parques (FIG) www.internationalrangers.org surge com a finalidade de melhorar o nível profissional dos guarda-parques em todo o mundo: Avançar nos objetivos da Estratégia de Conservação Mundial da União Internacional de Conservação da Natureza (UICN); Compartilhar conhecimentos e recursos; Estabelecer comunicação global com organizações de Guarda-parques; Fomentar o intercâmbio profissional entre Guarda- parques; Organizar reuniões regulares internacionais, incluindo um Congresso Mundial a cada 03 anos e Representar os interesses dos Guarda parques através de uma estreita cooperação com outras organizações internacionais.
Atualmente a FIG reúne associações em mais de 60 países diferentes. No caso do Brasil, a Associação Brasileira de Guarda-parques e a Associação de Guarda-parques Indígenas (APITIKAXI) encontram-se associadas.

Por que proteger a Biodiversidade mantendo um sistema de áreas protegidas gerenciado por Guarda-parques?
A Convenção sobre a Biodiversidade Biológica fomenta que cada parte assinante, na medida do possível e quando puder, “Estabelecerá um sistema de áreas protegidas ou áreas onde se tomem medidas especiais para conservar a diversidade biológica” aspecto que se encontra definido em seu Art. 8 letra A.
No caso do Brasil o Decreto nº 2.519, de 16 de março de 1998, promulga a Convenção sobre Diversidade Biológica, assinada no Rio de Janeiro, em 05 de junho de 1992.
A melhor estratégia para proteger a Biodiversidade é implementando sistemas de áreas protegidas que possuam profissionais qualificados para seu gerenciamento, isto é a chave de uma proteção efetiva. A proteção efetiva é aquela em que se considera a presença ativa e permanente de profissionais capacitados, preparados e com infraestrutura para um bom gerenciamento, ou seja, Guarda-parques. Em nível mundial ainda existem muitas áreas que foram criadas, mas, não possuem profissionais trabalhando dentro de elas, são conhecidos como os “Parques de Papel”.
O planejamento das unidades de conservação é outro ponto importante a considerar e nesse aspecto a “Declaração e plano de ação de Caracas (IV Congresso mundial de Parques Nacionais, Caracas, Venezuela, 1992) incentiva ao planejamento das áreas protegidas, mediante a elaboração de seus respectivos Planos de Manejo”.
Finalmente é possível considerar a existência de razões culturais, valores de índole moral, constitucionais, entre outras, na criação de unidades de conservação.

Porque precisamos de guarda-parques
Considerando a importância ambiental de Brasil em relação aos Biomas que existem e o objetivo do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) na proteção destes, a necessidade de ter professionais devidamente capacitados corresponde a uma ação fundamental e prioritária.
No documento “O futuro que queremos” que corresponde a um esboço inicial das questões a debater, é possível observar na página 16 a seguinte consideração:
“Nós consideramos bem-vindos o Protocolo de Nagoya adotado na 10ª Reunião da Conferência das Partes da Convenção sobre Biodiversidade. Apoiamos a institucionalização de serviços de biodiversidade e ecossistema em processos políticos e de tomada de decisões nos níveis regionais, nacionais e internacional, e encorajamos investimentos no capital natural através de incentivos e políticas apropriados, que apoiem um uso sustentável e igualitário da diversidade biológica e dos ecossistemas”.
Um dos grandes problemas na gestão das Unidades de Conservação é a falta de profissionais em quantidade e qualidade. Alguns exemplos no Brasil é o caso do Parque Nacional Montanhas de Tumucumaque que com 3.867.000 ha de superfície só conta com 03 gestores encarregados de administrar a área, é não contam com o apoio de Guarda-parques. No lado da Guayana Francesa, caracterizado também como Parque Nacional tem equipamento, infraestrutura e mais de 150 Guarda-parques. Uma mesma área de conservação dividida por limites politico-administrativos apresenta notáveis diferenças dentro de uma perspectiva de gestão.
Existem alguns exemplos positivos para reverter a situação de falta de pessoal, como o caso do Estado de Rio de Janeiro que abriu recentemente concurso público para a contratação de 220 guarda-parques.
Outro exemplo importante é o do estado de Amapá, que criou mediante a Lei Estadual nº 1.469 de 14 abril de 2010, o reconhecimento oficial da figura de Guarda-parque e Guarda-florestal, estabelecendo o cargo no quadro geral do estado. 

Vantagens da Oficialização de um Corpo de Guarda-parques
Considera-se como insuficiente que na gestão das Unidades de Conservação em nível federal esteja reconhecida a função do guarda-parque pelo Decreto nº 6.515, de 22 de julho de 2008 como uma atribuição para a Policia Militar e o Corpo de Bombeiros. A implementação desta lei têm sido impossibilitada por diferentes fatores administrativos, e na prática não tem sido possível, em alguns casos, contar com o apoio da Policia Militar e Bombeiros no gerenciamento das unidades. 
Entre as principais vantagens da criação oficial de um corpo de guarda-parque civil estão:
- Geração de emprego: oportunidades de emprego para as comunidades locais ou indígenas que moram dentro ou nas imediações das Unidades de Conservação.

- Consciência ambiental: mediante a educação ambiental desenvolvida pelos guarda-parques é possível contribuir e gerar consciência na população local.
- Conservação e preservação ambiental: mediante projetos de proteção e de restauração ambiental desenvolvido pelos guarda-parques.
- Preservação da cultura local: com a incorporação de guarda-parques comunitários ou indígenas é possível manter as pessoas próprias do local e não gerar um êxodo por falta de oportunidades de emprego.
- Sustentabilidade Ambiental: os aspectos mencionados anteriormente sem dúvida contribuem para melhorar aspectos sociais, ambientais e culturais, que formam o tripé da sustentabilidade.
- Apoio as comunidades vizinhas: considerando as atuais situações de desabamentos de terras, enchentes entre outras catástrofes ambientais, os guarda-parques podem preparar planos de emergências naturais com a finalidade de minimizar as perdas humanas e materiais.
- Os guarda-parques podem também contribuir a desenvolver diferentes políticas públicas em matéria ambiental em seus locais de trabalho.

Desafios para o futuro
O Brasil tem um Plano Estratégico Nacional de Áreas Protegidas, que define o caminho para a consolidação do seu sistema de unidades de conservação e está devidamente articulado como Programa de Trabalho de Áreas Protegidas da Convenção sobre Diversidade Biológica. O plano Nacional de Áreas Protegidas foi criado pelo Decreto Nº 5.758 de 2006.

Principais desafios
Os principais desafios para o Brasil em relação a seu sistema de Unidades de Conservação são:
- Garantir a sustentabilidade financeira do SNUC´s.
- Dotar o sistema de pessoal adequado, em número e qualificação.
- Regularizar a propriedade da terra nas unidades de conservação.
- Instituir Sistemas Estatais e Municipais compatíveis com o SNUC.
- Aumentar o desenvolvimento e implementação de planos de manejo em cada uma das áreas.
- É necessário completar o sistema, levando em conta as áreas priorizadas já identificadas e as lacunas na representação do sistema, especialmente em biomas costeiros e marinhos e em ecossistemas de águas continentais, como o Pantanal.

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